Vidro Produzido a partir do Lixo
Segundo dados da FAO, a organização de alimentos e agricultura das Nações Unidas 1/3 de toda a comida produzida no mundo é perdida ou desperdiçada (1).
Alem disso de acordo com dados da EPA, a agência americana de proteção ao meio ambiente, os Estados Unidos registraram durante o ano de 2013 a produção de 250 milhões de toneladas de rejeitos sólidos municipais(2). Desse total 34,4% eram constituídos de materiais orgânicos excluindo papel e papelão, ou seja, cerca de 86 milhões de toneladas.
Sabendo que muitos componentes empregados na produção tradicional de vidro estão também presentes neste rejeito orgânico alguns cientistas(3) desenvolveram uma metodologia para gerar vidro a partir deste material e de fato conseguiram em escala laboratorial. A foto abaixo (4) mostra a fusão.
Outro fato que conduziram eles a seguir nesse caminho foi que antigamente, antes da revolução industrial no século XIX, os vidreiros já empregavam corriqueiramente materiais de origem orgânica na forma de cinzas de plantas. Conta-se que em Nápoles as cinzas das pizzarias eram recolhidas para serem usadas como matéria-prima.
Após a revolução industrial no final do século XIX e início do século XX com a popularização do vidro e aumento expressivo de sua produção o uso de matérias-primas de origem orgânica foi trocada por minérios.
A ideia é a seguinte: a produção dos três principais grãos consumidos pela humanidade, arroz, trigo e milho é da ordem de 2,2 milhões de toneladas anuais, dados de 2011. Essa produção gera muitos rejeitos na forma de cascas, caules e espigas. Estima-se que tais rejeitos somem 435 milhões de toneladas, sendo que 15%, ou seja, 65 milhões de toneladas são de sílica.
Considerando que naquele ano de 2011 a produção mundial de vidro a partir de matérias-primas minerais, descontando a reciclagem, foi de 100 milhões de toneladas e que cerca de 70% deste montante é sílica, caso se aproveitassem os rejeitos, apenas dos EUA, eles praticamente poderiam suprir toda a produção mundial de vidro!
Para produzir seu vidro em laboratório, alem da sílica, os pesquisadores precisaram de outros componentes que participam da composição tradicional deste material, que são o óxido de cálcio e o óxido de sódio. Para isso eles empregaram cascas de ovos que são praticamente carbonato de cálcio puro, um precursor do óxido de cálcio, e cascas de banana, cuja massa possui 68% de óxido de potássio que pode substituir o óxido de sódio. Hoje se emprega o óxido de sódio na fabricação de vidros, pois apresenta maior disponibilidade, mas o óxido de potássio também é viável tecnicamente.
Certamente que para adaptar o uso de fontes orgânicas de matérias-primas à produção em escala industrial muito desenvolvimento ainda deverá ocorrer, pois esses materiais são muito distintos dos tradicionalmente empregados pelos vidreiros. Mesmo assim, a ideia de produzir vidro a partir de rejeitos, dando a eles uma destinação nobre, além de reduzir a extração de minerais naturais e, portanto, o impacto ambiental dessa atividade humana, torna o vidro, um material já muito adaptável às exigências modernas de sustentabilidade, ainda mais interessante.
(1) Food Wastage Footprint: Impacts on Natural Resources, ISBN 978-92-107752-8, ©FAO 2013
(2) United States Environmental Protection Agency, Office of Solid Waste (6306P) EPA530-R13-001 Maio 2013. Municipal Solid Waste in the United Stats: 2011 Facts and Figures.
(3) I A Cornejo, I E Reimanis, and S Ramalingam. “Methods of making glass from organic waste food streams” US Provisional Patent No 61/873,696 (2013).
(4) Glass International – dezembro 2013
Mauro Akerman
Abril 2018