Normas técnicas de revestimento cerâmico

Agenor De Noni Junior

Universidade do Extremo Sul Catarinense

Resumo
Os revestimentos cerâmicos, principalmente na última década, passaram por uma grande revolução de qualidade. As possibilidades de desenvolvimento estético e o aumento no tamanho das peças são os principais pontos de inovação percebidos diretamente pelo mercado. Esta evolução deve-se principalmente pelos avanços tecnológicos dos equipamentos de processo. Destacam-se, em especial, a tecnologia de decoração, com uso de serigrafia por jato de tinta, e as tecnologias de conformação das placas. Peças em grandes formatos, desde bitolas 60 x 60 cm2, até 120 x 300 cm2, e espessura que variam entre 3 e 10 mm são os produtos com maior valor agregado atualmente encontrados no mercado. Por outro lado, as normas de classificação dos revestimentos cerâmicos não acompanharam esta mesma evolução. Os comitês que definem as normas realizam reuniões anuais e apresentarem algumas novidades. Apesar disso, existem questões fundamentais que permanecem sem uma solução efetiva. Existe, portanto, um descompasse temporal entre a evolução dos produtos e a evolução das normas técnicas. Por outro lado, a concorrência e segmentação mercadológica, aliando a pressão por preços de vendas cada vez menores, permitem que sejam ofertados produtos cujo desempenho é muito abaixo do esperado pelos clientes e especificadores. Assim, toda a cadeia produtiva dos revestimentos cerâmicos é colocada em risco de mercado, oportunizando que produtos substitutos ganhem preferência. Ao mesmo tempo em que isso ocorre, entra em vigor uma nova normativa de desempenho da construção civil. Um dos fatores significativos desta norma está relacionado com a divisão de responsabilidades entre os agentes responsáveis pela construção: (1) fabricante do produto, (2) projetistas/especificadores (engenharios e arquitetos); (3) construtoras. Os revestimentos cerâmicos correspondem apenas a uma parte da enormidade de itens envolvidos em uma obra. Os arquitetos e engenheiros, muitas vezes, não se sentem seguros em especificar e se responsabilizar por determina aplicação de revestimentos cerâmicos. Parte disso está relacionada com o fato de não haver uma modelo eficaz de especificação que ofereça garantidas de desempenho. As próprias normas atualmente vigentes apresentam graves problemas. Isso começa na própria incerteza e subjetividade da medição. Um dos casos mais evidentes está relacionado com a resistência ao desgaste de produtos esmaltados (Esta norma foi trazida de outro setor, cuja finalidade de aplicação de esmalte cerâmicos distância significativamente da finalidade de uso dos revestimentos cerâmicos). Outro exemplo está nas normas de determinação do coeficiente de atrito, que em princípio deveria garantir o desempenho do produto no quesito escorregamento. O que se observa na prática é grandes distorções entre a classificação laboratorial e o desempenho efetivo do produto. Existem esforços na tentativa de resolver estes e vários outros problemas das normas técnicas para os revestimentos cerâmicos. Observa-se também que alguns fabricantes demonstram grande preocupação em quantos outros não. Aparentemente o resultado é mais favorável àqueles que se preocupam menos com as normas e uma correta especificação do produto. Somado a isso, a certificação dos produtos tem caráter opcional. Ou seja, um fabricante pode optar ou não pela certificação de seu produto. Esta questão também afeta a dinâmica mercadológica. Para aqueles que optam pelo uso dos revestimentos cerâmicos, a decisão do preço que estão dispostos a pagar pelo produto é também afetada. Existe ainda a parcela que opta por produtos substitutos, por diversos motivos/preferências, mas que diminui a participação da cerâmica como material prioritário. Por fim, o setor carece de uma mobilização efetiva no sentido de atualizar as normas técnicas, fazendo com que elas ofereçam garantias de desempenho final ao consumidor. A omissão poderá conduzir a um cenário de não sustentabilidade no longo prazo, pondo em risco toda a cadeia produtiva. O envolvimento entre fabricantes e instituições de ensino e pesquisa pode ser uma das formas de mudar este cenário.




Copyright © 2014 Metallum. Todos direitos reservados.